As mães que me corrijam se eu estiver errada, mas basta o anúncio da gravidez para que a mulher comece, instantaneamente, a receber conselhos. Muitos deles nunca foram pedidos, diga-se de passagem. Então, quando me perguntam em palestras ou entrevistas sobre os conselhos que eu daria a uma mulher que deseja ser mãe e, ao mesmo tempo, cuidar de sua carreira, sinto que preciso pisar em ovos.
Isso porque há particularidades demais nesse tema e algumas escolhas dizem respeito só a cada mulher. Afinal, quem é que pode dizer a uma mãe o que é mais (ou menos) correto? Eu não me atreveria. O que posso fazer é contar a minha história e compartilhar alguns aprendizados que vivi como mãe-executiva e como líder de diversas outras mães.
O primeiro aprendizado veio quando meu primogênito nasceu. Aconteceu no mesmo momento em que fui convidada para ser a diretora financeira da empresa onde trabalhava. Era uma grande oportunidade em uma posição que fazia muito sentido para mim após um MBA no exterior. A questão é que a oferta era para a filial na Venezuela e o meu filho tinha apenas 25 dias quando me convidaram. Nem preciso dizer que vivi os conflitos e culpas tão comuns a uma mãe. Mas preciso dizer que eu fui.
Com o apoio do marido que prontamente disse “vá”, me mudei para um país bem diferente com meu bebê de dois meses. E foi nesse lugar do “desconhecido” que aprendi a ser mãe e uma C-level de finanças. A verdade é que a maternidade pode nos deixar mais corajosas, dependendo de como escolhemos vivê-la. Logo na minha “estreia” como mãe descobri que, diferente do que ouvi sobre limitações, os filhos podem mesmo é ampliar nossos horizontes.
Mas, nem só de coragem é feita a maternidade. Ao longo dos anos percebi que para conciliar filhos e carreira é preciso também planejamento. Isso porque, infelizmente, o mercado é diferente para a mulher e não dá para negar isso. Vejo algumas pessoas tentando um discurso positivo, dizendo que as mulheres não devem se vitimizar e batalhar por sua carreira lado a lado dos homens, sem distinção. Eu concordo que elas devem ser protagonistas de suas carreiras, mas é inocência pensar que não há diferença.
Entender a desigualdade dará à mulher a clareza de que ela precisa planejar sua carreira. Por exemplo, engravidar logo ao chegar em uma empresa pode ser estressante. Isso porque ela terá que lidar com os desafios da gestação, enquanto se estabelece na nova posição no trabalho. Não se trata de adiar a maternidade, mas entender que planejá-la pode gerar uma experiência muito melhor para quem já vive um momento particular em seu emocional.
Mas há, ainda, um terceiro aprendizado que preciso compartilhar e que, diferente dos dois primeiros, não está diretamente ligado às ações que uma mulher pode fazer por si mesma. É algo exterior a ela. Cada vez mais percebo que o desafio da mulher que quer ser mãe e ter uma carreira de sucesso também depende de quem é seu (sua) líder.
Lembro com perfeição dos seis meses de licença maternidade de uma funcionária querida com quem trabalhei. Ela tinha o cargo de gerente geral de uma parte da equipe que eu liderava e, enquanto esteve fora, acumulei suas funções. Fiz isso porque se eu a substituísse, ficaria difícil reposicioná-la no seu retorno. Meu chefe, na época, me questionou porque eu fazia aquilo, e eu afirmei sem rodeios que ela era valiosa para a equipe e para a empresa.
Então, sim, a maternidade no mercado de trabalho pode ser mais fácil ou mais difícil, dependendo da liderança que a mulher tem. É por isso que esse tema ainda precisa ser tão discutido. É por isso que precisamos de diretores e diretoras que, para além dos 4 ou 6 meses de licença, enxerguem aquilo que foi o meu primeiro aprendizado ao ser mãe: filhos abrem os horizontes das mulheres e podem torná-las mais corajosas, resilientes, com alta capacidade de planejamento e muito mais criativas.