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A busca pelo líder de RH: o que mudou com a pandemia?

Até há pouco tempo não era incomum ouvir do mercado pedidos de indicação de “executivos de RH, que não fossem de RH”. Estranho? Mas era essa a descrição que eu sempre ouvia. As empresas estavam em busca de um líder para área de pessoas, mas queriam um profissional que tivesse transitado por outras áreas como vendas, marketing ou finanças. Alguém que soubesse cuidar dos colaboradores, mas sem perder de vista o negócio, a estratégia, os resultados.

É claro que ninguém falava isso, mas, no fim das contas, queriam um líder de RH que não fosse originário de RH. Isso porque o mercado criou uma imagem desse profissional de um líder que, embora seja ótimo em criação de processos como onboarding e estabelecimento de cultura, não tem uma visão estratégica do negócio e, portanto, não é capaz de suportar a empresa em um período desafiador.

O líder de RH que construiu toda sua carreira na área de Pessoas passou a ser visto, muitas vezes, como alguém menos preparado. As empresas começaram a evitá-lo com medo de seu baixo engajamento com os números e resultados da empresa ou, ainda, por entenderem que ele tinha um discurso desconectado do dia a dia “hard” do negócio. Minha percepção era que, pouco a pouco, o executivo de RH – que era de RH – foi sendo jogado para escanteio e perdendo prestígio junto a seus pares.

Mas, então veio a pandemia e o isolamento social. E, junto com eles, um esforço absurdo das empresas para lidarem com os desafios do trabalho remoto, do adoecimento físico e mental dos colaboradores, do relacionamento interpessoal mediado pela tecnologia. O tema “pessoas” nunca foi tão revisitado no ambiente corporativo. De repente, o líder de RH que entende mesmo de pessoas passou a ter muito a ver com a “estratégia” que as empresas tanto devem focar.

Entender de números, marketing e vendas continuou sendo importante, mas fato é que a bagagem na área de RH voltou a ser um fator relevante no pool de habilidades do executivo de Pessoas. O mundo de RH está sendo chamado a cumprir um papel de garantir a saúde mental nas equipes e as empresas entendem, cada vez mais, que nada substitui o humano.

Que bom! O mercado precisava mesmo reparar esse erro e parar de rotular os originários de RH. Mas, e estes líderes da área, o que estão aprendendo com essa reviravolta? Veja três lições da pandemia para o executivo de Pessoas, que mesmo com o demandante momento BANI (frágil, ansioso, não-linear e incompreensível), não pode perder de vista seu crescimento:

Valorizar a si mesmo e a sua área
É verdade que algumas empresas precisaram de uma experiência de isolamento social para valorizar mais a área de RH. A pandemia mostrou que o mercado pode mudar a visão sobre a área se perceber de fato o quão estratégico é investir em pessoas. E a responsabilidade de alterar essa percepção também é dos profissionais da área. Não fique apenas lamentando que “a empresa não prioriza o tema ‘gente’ nas discussões de negócio”. Olhe para si mesmo como um executivo de RH, enxergue valor no que faz e, assim, terá confiança para influenciar o ambiente e provocar transformações.

Buscar conhecimentos transversais ao RH
Conhecer de “gente” é uma das tarefas mais complexas para um líder, mesmo aqueles que construíram longa carreira em RH. Isso porque esse é um conhecimento móvel: as pessoas e as culturas estão sempre se transformando, como vimos de forma tão nítida na pandemia. Isso exige dos executivos da área um conhecimento amplo, que vai além dos temas intrínsecos ao RH. É preciso saber de gestão de talentos, estratégia de remuneração e gestão de folhas e benefícios? Claro que sim! Mas também de saúde mental e neurociência, de conflito de gerações (baby boomers, X, Y,Z), de viés cognitivo e impacto na tomada de decisão, de dinâmica de grupos e construção de cultura colaborativa.

Procurar experiências multifuncionais
A experiência com os temas de RH foi essencial para os executivos da área durante o período de isolamento social. Mas isso não quer dizer que esses líderes devem fechar sua bagagem para outras vivências. Pelo contrário, as mudanças de mundo, como a que vivemos com a pandemia, exigem dos líderes visões mais amplas dos cenários e habilidades diversas para lidar com as transformações.

É essencial que o executivo de RH se coloque em experiências que vão além do tema pessoas, entendendo de outras áreas como Marketing, Finanças, Logística, Vendas. Essa experiência multifuncional confere ao profissional uma característica de versatilidade e legitimidade, permitindo-lhe falar das áreas não como alguém que sabe, mas como alguém que viveu.

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