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ESG permeia estratégia

Demandas de sustentabilidade não devem mais ser tratadas à parte, pois se relacionam com todas as áreas de uma empresa

Nos últimos três anos, a sigla ESG – conceito de sustentabilidade formado pelos pilares Ambiental, Social e Governança – tem sido amplamente disseminada no mercado brasileiro. Na Europa, no entanto, esse conceito já baliza as ações corporativas há quase 20 anos, desde que foi mencionado pela primeira vez numa reunião da Organização das Nações Unidas (ONU).

“A Europa é o nosso farol na agenda ESG. Historicamente, são de lá os consumidores e as empresas mais exigentes em sustentabilidade”, disse Sonia Consiglio, SDG Pioneer pelo Pacto Global da ONU e que atuou como mediadora do painel “Agenda ESG e seu impacto na relação de negócios”, parte da programação do European Day.

Um dos debatedores foi Clauber Andrade Souza, diretor jurídico, de GRC (governança, risco e conformidade) e de sustentabilidade da Citrosuco, produtora brasileira de alimentos – especialmente suco de laranja – que está completando 60 anos. A empresa assumiu uma série de compromissos ESG até 2030, como reduzir em 28% as emissões de CO2 e ampliar para toda a cadeia de fornecedores os mesmos parâmetros de excelência das 25 fazendas próprias, certificadas no nível ouro da Sustainable Agriculture Initiative Platform (SAI Platform), referência internacional no setor.

O executivo da Citrosuco disse que, por influência direta da Governança Corporativa, os parâmetros ESG ganharam protagonismo nas decisões da empresa – mesmo porque é um caminho obrigatório para um setor com grande presença internacional. “O Brasil produz 62% do suco de laranja do planeta e é responsável por 70% das exportações do produto. De cada cinco copos de suco de laranja que as pessoas bebem no mundo, três certamente vêm do Brasil.”

No final do ano passado, em sintonia com o conceito de energia circular e de aproveitamento máximo dos recursos, a Citrosuco anunciou o lançamento de uma nova unidade, a Evera Ingredients. A missão é desenvolver pesquisas e tecnologias para aproveitar da melhor forma as sobras do processo, como folhas e flores, além dos 50% da laranja que não são usados na fabricação do suco – isso inclui casca, sementes, fibras, polpa e bagaço. “É uma matéria-prima riquíssima, que pode ser utilizada em diversas cadeias de produtos, como substitutos naturais de elementos químicos”, descreveu Souza.

O valor da governança

Claudia Elisa Soares, do Conselho de Administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), defendeu a importância do pilar “G” da sigla ESG. Ela disse que, embora muitas vezes o destaque maior seja dado às questões ambientais e sociais quando se fala em sustentabilidade, o “G” é a base de tudo. “Só com uma boa estrutura de governança corporativa é possível desenvolver os outros dois pilares. Por isso não há letra mais ou menos importante nessa sigla. As três são essenciais.”

Para a conselheira do IBGC, organização que congrega mais de 3.300 associados, as empresas brasileiras precisam impulsionar o processo de internacionalização, num cenário de digitalização e competição cada vez mais global. “Nossas empresas sempre foram tímidas quando se fala em internacionalização. Como nosso mercado de consumo é grande e enfrentamos alta complexidade legal, esse aspecto muitas vezes costumava ser deixado de lado.”

Para Clauber Andrade Souza, da Citrosuco, o planejamento estratégico das empresas com pretensão de atuação internacional precisa obrigatoriamente ser permeado, nos mais diferentes aspectos, pelas demandas de sustentabilidade. “Não deve haver uma agenda ESG separada da agenda de negócios, e sim uma única agenda estratégica, com tudo integrado.” É nesse ponto que Claudia Elisa Soares, do IBGC, considera que está o maior problema de muitas empresas brasileiras que não se adaptaram à nova realidade. “São organizações que ainda pensam que precisam escolher entre sustentabilidade ou lucro, como se não fosse possível ter sustentabilidade e lucro.”

Sonia Consiglio considera que ESG já nem deveria mais ser tratado como um assunto à parte, tamanho o protagonismo que vem ganhando na estratégia das empresas. “Sempre digo nos Conselhos dos quais participo que deveríamos pensar, na verdade, em EESG, com o pilar econômico entrando como mais um, no mesmo patamar dos demais.”

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