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O que networking tem a ver com equidade de gênero nos conselhos administrativos?

Nesta semana, o Valor Econômico divulgou pesquisa inédita da WCD (Women Corporate Directors) sobre o “Retrato da Conselheira no Brasil”, a partir de entrevistas com 200 conselheiras. O levantamento mostrou que apenas 14% das cadeiras em conselhos de empresas de capital aberto são ocupadas por mulheres.

E mesmo aquelas empresas que têm representatividade feminina no conselho, nem sempre têm equidade de gênero. Segundo a pesquisa divulgada pelo Valor, a maioria das conselheiras entrevistadas respondeu que a participação feminina nos conselhos onde atuam é menor que 30%.

Apesar de serem dados novos, eles não surpreendem justamente por comprovar uma realidade que já sabemos de cor: a desigualdade de gênero nos conselhos. Mas, nessa mesma pesquisa, um dado diferente me chamou a atenção. Segundo o levantamento, 61% das entrevistadas disseram já ter indicado outra mulher para um cargo em conselho, sendo que 40% dessas indicações se concretizaram.

Quando li isso pensei no poder do networking e da colaboração entre as mulheres no mercado corporativo. Imediatamente me lembrei de uma experiência que tive em 2013, quando participei de um evento mundial da WCD em Nova York. Durante os dias que estive lá, fiquei encantada com o ambiente de solidariedade e confiança entre as participantes. Os sentimentos de competição e inveja, muito comuns em outros momentos de interação no mundo corporativo, simplesmente não existiam lá. 

Senti que aquelas líderes eram transparentes, olhavam umas para as outras com interesse e acolhimento, falavam de forma tão verdadeira sobre si mesmas, que algum desavisado até poderia chamar esse compartilhamento de “sincerocídio”. Fiquei pensando em quanto tempo economizamos quando somos diretos, claros e verdadeiros. Quando as conversas “pisando em ovos” são deixadas de lado! E é justamente isso que acontece quando há mais mulheres no ambiente ou numa reunião.

Desde aquele tempo, que foi também quando comecei minha trajetória em Conselhos, percebi o valor de ter mais mulheres sentadas nas cadeiras do Boardroom. Também fui instigada a pensar no que eu, pessoalmente, poderia fazer para tornar isso uma realidade. 

Enquanto entendia que essa responsabilidade também era minha, pensei em algumas ações práticas:

Participar de encontros de networking feminino 

É nesse tipo de encontro que podemos conhecer mulheres inspiradoras e também inspirar aquelas que precisam de um empurrão para permanecer perseverando na carreira corporativa. Encontros só de mulheres são sempre uma injeção de ânimo para afastar os fantasmas do medo, da insegurança e da culpa que rondam o universo feminino. É também o lugar de se conectar com seu propósito e lembrar quão empolgante pode ser esse mundo dos negócios.

Indicar e recomendar mulheres

Pense numa lista de pessoas talentosas que você indicaria de olhos fechados para um cargo de liderança. Quantas delas são mulheres? Como nossa principal convivência é com homens, normalmente são eles os primeiros que vêm à nossa memória na hora de fazer uma indicação. Mas, se investirmos em networking feminino e fizermos o esforço de manter à mão uma lista de mulheres recomendáveis, então poderemos contribuir para a equidade de gênero no mundo corporativo.

Fazer um exercício de encorajamento mútuo

Por uma série de questões sociais, é comum que as mulheres tenham mais medo de encarar maiores riscos em suas carreiras. Aceitamos mais facilmente “dar um passo de cada vez”, somos mais exigentes com nosso nível de conhecimento e mais cautelosas para nos “vender”. É por isso que um exercício de encorajamento mútuo pode fazer diferença. Reuniões com grupos de mulheres para troca de experiências, feedbacks de desenvolvimento e incentivo frente a oportunidades são uma excelente maneira de fazer mais mulheres se arriscarem num sonho grande.

Aceitar as diferentes personalidades

Pesquisas mostram que as pessoas têm ideias pré-existentes sobre como homens e mulheres devem se comportar. Normalmente os homens são vistos como decididos e fortes, enquanto as mulheres como acolhedoras e amigáveis. Por causa disso é comum que mulheres com personalidade dominante causem antipatia. Por outro lado, aquelas com características vistas como “tipicamente femininas” são, muitas vezes, taxadas como menos competentes. 

No universo masculino, entretanto, isso não existe. Não há esse dilema entre ser gostado e ser competente, de maneira que o homem tem mais liberdade para crescer na carreira, independente de sua personalidade. Infelizmente não podemos mudar as ideias pré-existentes de todos os que nos cercam, mas podemos transformar a forma como pensamos e agimos. Se praticarmos essa aceitação e não julgamento, vamos contribuir para que mais mulheres sejam livres para serem quem são e ocuparem as cadeiras que quiserem.

Desde 2013 tento cumprir essas ações e convido você, homem ou mulher, a se juntar a mim. Se cada pessoa entender sua responsabilidade na luta pela equidade de gênero, talvez a mudança que tanto almejamos chegue um pouco mais rápido e alcance a todas nós. Quem sabe esse movimento será o responsável por lhe oferecer aquela cadeira que você sonha?

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