Eu me lembro com detalhes das primeiras palavras que falei aos meus filhos quando eles nasceram.
Emocionada por tê-los nos meus braços, me lembro de dizer o quanto eu desejava que eles fossem felizes, saudáveis e tivessem uma vida com muito amor.
Mas eu também sempre acrescentava: “que você escolha uma carreira que ame muito e se dedique para ser o melhor no que escolher”.
Foi assim com o meu primeiro filho David e com o segundo, Simon.
Até que a Sofia nasceu. E, junto com ela, uma clareza de que havia algo errado com o que eu havia decidido dizer aos meus filhos em seus nascimentos.
Não que o conteúdo fosse problemático, não era. É que me dei conta que aquele era o modelo de vida que herdei dos meus pais e, agora, tentava reproduzir nos meus filhos.
Era eu quem gostava dessa ideia de me apaixonar pela carreira e me dedicar ao máximo à jornada que escolhi. Eu aprendi isso com os meus pais e, de fato, é algo que me faz muito feliz.
Mas, seria esse o único modo de ver a vida? Esse era mesmo um conselho tão importante a ponto de eu colocá-lo nas minhas primeiras palavras para os meus filhos?
Foi um momento de lucidez que eu tive ali mesmo, na maternidade, enquanto eu recebia nos meus braços a minha terceira filha.
Decidi que eu não queria mais apresentar apenas uma possibilidade de vida aos meus filhos, nem gostaria que eles se sentissem obrigados a copiar a minha história.
Então, eu mudei meu discurso.
Para a Sofia, eu apenas disse o quanto ela era amada e acrescentei: “que você faça escolhas que a leve a um caminho de muita felicidade”. E completei: “eu estarei sempre te apoiando para que isso ocorra”.
É claro que as minhas palavras com os meus dois primeiros filhos foram ditas com as melhores das intenções, pois o que eu mais queria é que eles fossem legitimamente felizes.
Mas, eu precisei de uma terceira gestação para entender que, embora não seja a escolha mais fácil, deixar o caminho aberto para o protagonismo deles, era – e ainda é – o melhor que eu posso fazer pelos meus filhos.