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Que tipo de futuro os jovens profissionais herdarão?

“Em tempos de mudanças drásticas, os aprendizes herdarão o futuro”.

Embora tenha sido escrita há mais de 50 anos, a frase de Eric Hoffer mostra-se mais atual do que nunca. Afinal, é inegável que a adoção em massa da Inteligência Artificial e de outros recursos tecnológicos estão proporcionando transformações nunca vistas e ainda não totalmente compreendidas na forma como agimos, pensamos, trabalhamos e nos relacionamos.

Está evidente que para prosperar, se manter relevante e atuante no mercado de trabalho será necessário fazer a leitura assertiva deste mundo que se anuncia, buscando conhecimento, estabelecendo parcerias e se instrumentalizando para operar dentro da construção deste novo paradigma.

Mas de que forma estamos preparando nossos aprendizes, os jovens profissionais, para o futuro que herdarão?

Me peguei fazendo essa reflexão ao ler o estudo “Futuro do Mundo do Trabalho para as Juventudes Brasileiras”, idealizado pela Fundação Telefônica-Vivo, Itaú Educação e Trabalho, Fundação Roberto Marinho, Fundação Arymax e GOYN SP, com execução dos institutos Cíclica e Veredas.

Eu sempre gostei de me relacionar com os mais jovens.

Quando estou em contato com as novas gerações, sinto uma conexão especial, uma troca intensa de energia, saberes, inquietudes, convicções e uma vontade imensa de aprender e contribuir. Por isso, há muitos anos sou mentora da Fundação Estudar, uma organização sem fins lucrativos que visa apoiar o desenvolvimento pessoal e profissional de jovens.

E me preocupa saber por meio do levantamento que 27% dos brasileiros de 14 a 29 anos fazem parte da população “sem-sem”. Ou seja, o grupo das pessoas que estão sem oportunidade de estudar e trabalhar. O maior grupo é daqueles que trabalham, mas não estudam, com 39%; os que apenas estudam mas não trabalham por falta de oportunidades somam 15%.

E os dados preocupantes não param por aí. Para 67% das organizações ouvidas pela pesquisa, faltam cursos de qualificação profissional acessíveis para os jovens de diferentes realidades no Brasil. Já 58% delas avaliam que capacitação profissional não está atualizada com os requisitos do mercado.

A análise também focou na qualificação dos trabalhadores da nova geração. Mais de 76% disseram que os jovens estão mal-informados sobre carreiras do futuro e sobre como funciona o mundo do trabalho. Outras 82% afirmaram que os empregadores não conseguem contratar jovens com habilidades compatíveis com as vagas.

O que fazer então? Não dá pra ignorar que esse grupo (equivalente a 24% da população brasileira) é importantíssimo para a evolução do mercado de trabalho do país.

E acredito que a solução passa por adotarmos em larga escala a governança da profissionalização para os novos entrantes do mercado, garantindo que os jovens trabalhadores estejam preparados para desempenhar suas funções.

Essa governança exige um pacto entre governos, empresas e profissionais para uma estratégia comum de desenvolvimento produtivo. A multiplicidade de agentes envolvidos com o tema aumenta a necessidade de coordenação para o desenvolvimento estratégico de uma educação profissional de qualidade. Só assim esses jovens serão incluídos de maneira digna na cadeia produtiva.

Este processo começa com a oferta de programas de educação e treinamento que são adaptados às necessidades e expectativas desta faixa etária, assegurando que os jovens estejam atualizados com as melhores práticas, novas tecnologias e tendências dos setores em que desejem atuar.

Além disso, com avaliações regulares de desempenho e competências é possível assegurar que esses profissionais mantenham um nível adequado de habilidade e conhecimento.

Fundamental também que as lideranças abram espaço de diálogo com quem está entrando agora – ou vai entrar em breve – no mercado de trabalho. Quando executivos de médio e alto escalão realizam mentorias e têm um contato mais próximo com jovens profissionais, vemos uma governança que possibilita a revisão e evolução dos planos de ação que os prepararam para o futuro.

E o futuro é promissor. Há pelo menos 5 grandes economias em plena expansão com uma grande demanda de profissionais. São elas:

·         Economia verde: engloba oportunidades em campos como energias limpas, turismo sustentável e agricultura. Nesta área, são necessários especialistas em recursos hídricos, ecodesigners, engenheiro de automação agrícola, cientista de dados agrícola, entre outros.

·         Economia criativa: engloba atividades artísticas e culturais. As profissões da área abrangem, por exemplo, streamers de jogos, técnicos de som, pesquisadores de mercado, chefs de cozinha e curadores de museus.

·         Economia do cuidado: compreende as atividades de cuidado direto e indireto, em uma grande diversidade de serviços e profissionais como enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, instrutores físicos, esteticistas, etc.

·         Economia prateada: refere-se aos produtos e serviços destinados a um público consumidor com 50 anos ou mais. Tem oportunidades em áreas como serviços, cuidados pessoais e saúde.

·         Economia digital: é formada pelos profissionais de tecnologia e recursos digitais. Atuam na área engenheiros mecânicos, técnicos em manutenção robótica, prestadores de serviços para instalação, cientista de dados, desenvolvedor de big data, programador web, programador de jogos digitais e engenheiro de software.

Como vimos, há espaço para todos. Uma nova frente de oportunidades está surgindo, à espera de candidatos aptos para ocuparem essas vagas.

Mas para dar chances iguais para todos é necessário identificar onde estão esses gargalos, desenvolver e aplicar um plano de ação que prepare os novos entrantes para executar com brilhantismo as novas demandas do mercado, incluindo o desenvolvimento de habilidades socioemocionais e tecnológicas desses jovens.

Aí sim, poderemos dizer que os aprendizes herdarão o futuro.

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Claudia Eliza © Copyright 2020. All rights reserved.
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